15/04/2021 | Meio Ambiente

Perigos das queimadas

Com consequências ambientais e sociais, o combate ao fogo deve ser travado com a ajuda da população

Além de marcar o fim do verão, o equinócio de outono (20 e 21 de março) é a data que inicia o período de seca no Brasil Central. Devido às condições climáticas de regiões como Bauru, é comum a ocorrência de queimadas espontâneas.

Porém, não se restringindo às suas causas naturais, esse problema acaba sendo intensificado pela ação antrópica (isso é, do ser humano). De maneira ilegal - e, portanto, criminosa - a sociedade também é responsável por gerar queimadas tanto nos espaços rurais quanto nos urbanos.

Segundo Luiz Carlos de Almeida Neto, engenheiro agrônomo e diretor do Jardim Botânico de Bauru, as altas temperaturas e a baixa pluviosidade concentradas entre os meses de maio a outubro provocam a secura da vegetação.

Essa biomassa seca, sobretudo as gramíneas, pode gerar fogo a partir do atrito com ela mesma ou com a pelagem de alguns animais. Além disso, sem a presença da água, as plantas ficam menos resistentes à inflamabilidade, o que facilita a criação e a propagação de incêndios.

O engenheiro afirma ainda que, neste ano, os efeitos da estiagem chegaram mais cedo do que o normal. Esse é um dos reflexos da anomalia climática conhecida como “La Niña”, que, em atividade desde setembro de 2020, foi a responsável pela redução na frequência de chuvas e o aumento nas temperaturas no centro-sul do Brasil.

O Monitoramento de Secas do Instituto de Pesquisas Meteorológicas (IPMet) aponta que a expectativa para o trimestre de maio a julho é justamente de temperaturas acima da média na região de Bauru e, pela atuação da La Niña, precipitação ligeiramente abaixo da média.

Com temperaturas mais elevadas e menos chuva, espera-se que os índices registrem condições de seca em intensidade moderada nos próximos meses. Essa antecipação do período de estiagem pode acarretar em mais casos de queimadas urbanas e rurais. Isso é perigoso, porque o fogo traz diversas consequências negativas à população e à natureza.

Impactos ambientais e sociais

Grandes ameaças à biodiversidade, os incêndios poluem os ecossistemas, desmatam áreas ocupadas por formações vegetais nativas, desregulam a presença de nutrientes no solo e destroem o habitat natural de dezenas, centenas ou, às vezes, milhares de espécies dos reinos Animal, Vegetal e Fungi.

Além disso, as queimadas favorecem os processos de erosão, a concentração de CO2 na atmosfera e a menor infiltração de água nos lençóis freáticos. Esses efeitos afetam diretamente o dia a dia da população.

A erosão em áreas habitadas, por exemplo, pode causar deslizamentos de terra, provocando o soterramento de casas e pessoas.

Já o excesso de CO2 causa a acidificação dos oceanos e grandes mudanças climáticas no planeta, uma vez que retém o calor, aumentando a temperatura média das regiões. Outra consequência dessa poluição pelo gás é a piora ou o desencadeamento de enfermidades cardiovasculares e respiratórias.

Vale destacar que, no momento em que vivemos, ainda sob a ameaça da pandemia de Covid-19 (doença que também implica complicações nesses dois sistemas do corpo humano), a intoxicação por CO2 torna-se mais complexa e perigosa.

Por fim, com a queima das árvores, não há mais a presença de raízes profundas capazes de transportar a água da chuva para os lençóis freáticos. As terras nuas provocam a evaporação da água antes de sua penetração no solo, evento que possibilita a formação dos “rios subterrâneos”.

Consequentemente, isso causa uma baixa no nível de água dos aquíferos e das nascentes. Na prática, diminuindo também o acesso aos recursos hídricos para as atividades humanas, sejam elas de subsistência ou industriais.

Atualmente, no Brasil, a Floresta Amazônica, o Pantanal, a Mata Atlântica e o Cerrado protagonizam o cenário das queimadas no país e lideram os levantamentos em número de focos de incêndio.

O Sistema de Observação da Terra (EOS) da NASA aponta que, de janeiro a outubro de 2020, mais de 200 mil km² do espaço total ocupado por essas quatro formações foram atingidos por queimadas.

Em área absoluta, o Cerrado - bioma que ocupa 23,9% do território nacional e é predominante em Bauru - foi o mais afetado pelo fogo, com cerca de 110 mil km².

Outro levantamento, este do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), demonstra que o Brasil encerrou 2020 com o maior número de queimadas em dez anos, mais de 220 mil casos. Somente entre janeiro e agosto, foram registrados 21 mil focos de incêndios no Cerrado.

Como está Bauru nessa história?

Pelos dados da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), até o momento, menos de um mês depois do equinócio de outono, já foram emitidas 12 advertências e 01 auto de infração em decorrência de queimadas constatadas. Em 2020, no total, foram emitidas 72 advertências.

Nesta semana, três incêndios criminosos foram registrados. O primeiro, no sábado (10), ocorreu na mata próxima ao Aterro Sanitário; o segundo, no domingo (11), em uma região de Cerrado da rodovia SP-225 com o final do acesso Engenheiro Horácio Frederico Pyles; e o último, na terça-feira (13), em um trecho de vegetação da quadra 12 da avenida Affonso José Aiello.

Segundo Dorival José Coral, secretário à frente da Semma, a nova gestão está ciente e preocupada com o risco representado pelas queimadas na cidade, tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas (sendo exemplos dessa o ateamento de fogo no lixo, em restos de podas e em terrenos sem capina).

Para lidar com este problema, a Semma continua o seu trabalho de autuação aos proprietários de terrenos e residências com casos de queimadas, previsto no Decreto Municipal n° 13.134/2016.

A primeira autuação é feita como uma advertência, mas, em situações de reincidência, é aplicada uma multa. O seu valor varia de R$ 1.500,00 a R$ 27.000,00 e ela pode ser imposta com ou sem flagrante, independentemente da identificação do autor da infração.

Além dessa medida, o secretário afirma que será implementada “uma brigada de incêndio que, preparada pelo Corpo de Bombeiros, irá utilizar da estrutura já existente nas diferentes secretarias municipais para melhorar o combate aos focos que surgirem”.

Na luta contra as queimadas...

Apesar dos esforços governamentais da Prefeitura no enfrentamento das queimadas, Luiz Neto e Dorival Coral concordam na solução mais efetiva para lidar com esse problema: a educação e a conscientização ambiental da população.

Para o diretor do Jardim Botânico, a “cultura das queimadas vem dos nossos antepassados, que a utilizavam no preparo do solo para o plantio”. Sem a desconstrução dessa ideia, as pessoas continuam até hoje a “varrer as folhas na calçada em frente às suas casas e colocar fogo, além de fazer o mesmo nos terrenos dos seus vizinhos”.

Nas regiões rurais, essa cultura permanece e é manifestada de maneira mais grave, pois as pessoas “acabam colocando fogo nas margens das rodovias, o que acarreta em incêndios de grandes proporções”, nas palavras de Neto.

Coral acrescenta: “A população ter percepção de preservação é ótimo, mas, infelizmente, muitos ainda acreditam que queimar lixo ou mato para limpar áreas é uma prática ideal. Temos que investir muito na educação ambiental, principalmente em nossas escolas”.

Enquanto a educação e a conscientização ambiental não têm um retorno positivo expressivo no número de casos de queimadas na cidade, resta às partes envolvidas participar desta luta com os recursos existentes.
À Prefeitura cabe promover de melhor forma a proteção das pessoas e da nossa vegetação. Já a população, em caso de encontro com um ponto de queimada, deve ligar para o Corpo de Bombeiros (193) ou para a Defesa Civil (14 3235-1169).

Perigos das queimadasPerigos das queimadas